Os modismos e tendências influenciam muita coisa no nosso estilo de vida. O mercado de consumo é um poderoso guru, e agora as redes sociais são os novos profetas. No setor de nutrição, sobretudo com a influência da pandemia, a palavra de ordem é “superfoods”, ou super-alimentos. Esse termo é ouvido – e promovido – o tempo todo. Mas sabe-se pouco o que é verdade e o que é marketing.
Na verdade, elas não são nenhuma novidade. As tais superfoods estão na natureza desde que o mundo é mundo. Nada mais são do que alimentos com uma alta carga de nutrientes essenciais.
Os “superalimentos” podem ser muito ricos em fibras, ou em vitaminas, minerais e ácidos graxos. Por essa razão, eles são cheios de substâncias antioxidantes, anti-inflamatórias, energizantes, e ajudam a combater doenças.
Já a denominação “superfoods” sim, é um “hype” (do inglês hyperbole), termo que se refere a qualquer propaganda/promoção exagerada. Em outras palavras, portanto, é uma invenção de marketing.
O termo superfood não é científico. É uma sacada de mercado, que tem funcionado. Porque tem levado mais consumidores a se interessarem por alimentos que supostamente fornecem uma grande densidade nutricional.
Supostamente, aqui, é importante, porque as alegações de que um determinado alimento é uma superfood nem sempre se apoiam em evidências científicas. Sobretudo quando se trata de produtos industrializados.
Mas mesmo que a denominação superfood seja um pouco ilusória, e não regulada por nenhuma agência oficial de saúde, existem realmente alimentos que têm mais impacto nutricional do que outros.
Valor nutricional x calorias vazias
A densidade de nutrientes, a propósito, é a proporção de nutrientes por calorias. Para por num contexto mais fácil de entender, quando um alimento tem baixa densidade de nutrientes, como o pão branco, por exemplo, dizemos que ele tem “calorias vazias”.
Em resumo, tem calorias, que fornecem energia, mas é muito pobre em minerais e vitaminas. O pão branco pode ser muito gostoso, mas tem um valor nutricional muito baixo.
Os chamados superalimentos ou superfoods, então, são basicamente o oposto dos alimentos com calorias vazias. Isso não significa que eles tenham poucas calorias – alguns deles têm bastante. Quer dizer apenas que eles têm mais nutrientes por caloria do que a média.
Assim, pode-se questionar o termo “superfoods”, mas não há dúvidas sobre a importância de comer alimentos ricos em nutrientes.
Dessa forma, qualquer alimento que contenha muitos nutrientes essenciais deve realmente ser considerado uma superfood. Isso inclui um grande números de frutas e verduras, legumes, nozes, sementes, grãos integrais, e até alguns cogumelos.
A questão é que a indústria alimentícia não perde tempo, e sabe explorar bem a demanda do mercado por uma alimentação mais saudável. Superfoods representam super vendas, que geram bilhões de dólares. Segundo pesquisas recentes , calcula-se que todo o mercado de superalimentos atinja um valor de US$ 204,6 bilhões até 2025.
E com isso, as empresas estão transformando as “superfoods” em produtos sofisticados – e caros. Nossos bons e velhos alimentos naturais e saudáveis foram industrializados, ganharam novas embalagens e viraram artigos de luxo.
Super-exageros
Esses produtos superpoderosos vêm com as mais tentadoras promessas, que se amplificam nas mídias sociais. Há desde os sucos suco com ingredientes especiais que combatem o envelhecimento da pele aos shakes que previnem o câncer.
Infelizmente, para aqueles que procuram uma solução rápida ou cura milagrosa, a maioria dessas alegações não serão a solução. Por causa desses exageros, a União Européia proibiu o uso do termo superfoods nas publicidades, a menos que um laudo científico reconheça essas propriedades.
Ainda assim, de acordo com Relatório Anual de Bem-Estar Global da agência Nielsen, os consumidores estão dispostos a pagar mais por alimentos que consideram saudáveis e cujas alegações nos rótulos reforcem essa noção, mesmo sem ler a tabela nutricional.
Embora em geral esses excessos de marketing não causem sérios perigos para a saúde, eles associam o valor nutricional dos alimentos ao poder aquisitivo do consumidor.
Só que quem, por exemplo, chega a pagar até R$80 por um quilo por goji berries “ricos em vitamina C”, pode se desapontar ao saber que elas contêm a mesma quantidade de vitamina C de uma laranja.
Custos à parte, essa desiformação sobre o poder dos alimentos pode levar as pessoas a uma falsa sensação de nutrição saudável. Focar em um pequeno grupo de nutrientes pode significar não comer uma grande variedade de outros alimentos.
O consumidor pode acreditar que ao comer sua porção de uma superfood já garantiu sua ingestão de alimentos saudáveis, e acabar descuidando do resto da alimentação.
Mais perigoso ainda é apostar nos pacotinhos de “snacks” e outros produtos industrializados que se apresentam como Superfoods prontas e práticas para garantir sua dose diária e reforçada de nutrientes poderosos.
As cores dos alimentos naturais x marketing
A verdade é que nenhum item alimentar tem superpoderes suficientes para substituir uma dieta equilibrada, variada e saudável. A realidade é que precisamos literalmente comer um ‘arco-íris’ de diferentes cores e tipos de alimentos naturais. A variedade é fundamental para podermos obter todos os nutrientes.
Curiosamente, as cores das comidas fazem diferença, desde que, é claro, não sejam artificias. Elas são de fato uma ótima indicação funcional : a parte externa dos alimentos pode nos mostrar o tipo de nutrientes que eles contêm. Alguns exemplos:
Alimentos laranja e amarelo, por exemplo, obtêm sua cor do alfa e beta-caroteno, que ajudam o corpo a produzir vitamina A.
Por outro lado, o grupo dos alimentos branco e amarelo, como o leite, o queijo, o arroz, a couve-flor, a batata, o cogumelo e a banana, são ricos em cálcio e potássio.
Já as comidas marrons e beges como aveia, linhaça, castanhas, nozes e cereais fornecem fibras e vitaminas do complexo B, e também são ricas fontes de selênio e zinco.
Por causa disso, para ilustrar a importância de comer uma variedade de frutas e vegetais, os profissionais de saúde costumam aconselhar “comer o arco-íris”. Quanto maior a variação de alimentos de cores naturais em cada refeição ou lanche, melhor.
E sim, existem alimentos que são mais super (ou ricos em nutrientes) do que outros. A vantagem deles, sobretudo, é que eles fornecem mais nutrição com menos calorias. Mas eles não são necessariamente exóticos ou caros.
Muitos deles estão disponíveis na feira e em sacolões. Os mirtilos, as goji berries, a maca peruana e a frutinha chamada cranberry são mesmo cheias de nutrientes, mas custam caro, e também sozinhos não fazem milagres.
Super-pratos
Não existe nenhum alimento que não possa ser substituído por outro, seja por questões de disponibilidade, seja por preço ou até mesmo gosto pessoal. O rótulo “super” não é exclusivo. Há vários alimentos são tão saudáveis quanto eles e, muitas vezes, a um preço muito mais acessível.
Só para ilustrar: o mirtilo e o cranberry, por exemplo, nem sempre são fáceis de encontrar. Entretanto, praticamente todas as frutinhas vermelhas, tais como morango, amora, framboesa custam menos e são repletas de propriedades antioxidantes, vitaminas e minerais.
E como já vimos, as goji berries têm muita vitamina C, além de vitamina A, ferro e fibras. Mas os pimentões, todas as frutas cítricas (laranja, limão, acerola e tangerina), a goiaba, o kiwi e também os morangos e o melão cantalupe são ótimas fontes desses nutrientes.
Salmão é rico em Ômega 3, um ácido graxo que ajuda a reduzir os risco de doenças coronárias e a reforçar a imunidade. Mas ele também está presente na sardinha, assim como nas nozes, nas sementes e no abacate.

Quinoa e chia também estão em alta por seus valores nutrimentais, mas as leguminosas como o grão de bico, a ervilha e a lentilha, bem como todas as verduras verde escuras, como o espinafre e a couve, também são superfoods!
Em conclusão, a melhor coisa a fazer é aprender a selecionar e preparar os alimentos e não se distrair com modismos e marketing exagerado. Vale mais a pena focar nos ” super-pratos”, feitos com alimentos diferentes, saudáveis e saborosos ao mesmo tempo.
Com a colaboração de Thalita Mion
Leave a Reply