Recentemente, a destruição deixada pelos temporais na Bahia e em Minas Gerais escancaram os estragos que a falta de um planejamento urbano e da adoção de um modelo mais sustentável podem causar. A cada dia, vemos como o crescimento demográfico aumenta a vulnerabilidade da população e o risco de desastres. Entretanto, na linha de frente dos maiores desafios do mundo, algumas cidades sustentáveis combinam expansão e equilíbrio.
Desenvolvimento urbano e sustentabilidade devem e podem conviver. Os exemplos positivos das cidades consideradas as mais sustentáveis do mundo provam isso. Elas adotam soluções inovadoras para a urbanização.
Seus modelos incluem políticas urbanas coordenadas, planejamento de uso do solo e da água, conhecimento, capacidade técnica e leadership. Bem como comprometimento das partes interessadas na tomada de decisões.
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Cidades sustentáveis podem moldar o futuro global
Com toda a certeza, cidades e áreas metropolitanas são potências de crescimento econômico, contribuindo com cerca de 60% do PIB global. E assim o mundo se urbaniza gigantescamente a cada ano. Segundo relatório das Organização das Nações Unidas (ONU), até 2050 aproximadamente 70% da população mundial estará vivendo em cidades.
No Brasil, o ritmo é ainda mais acelerado. Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que até lá, 85% da população do país viverá em centros urbanos.
Embora essa migração seja inevitável, ela tem um custo alto. Em outras palavras, sem planejamento adequado, o crescimento urbano é a receita perfeita para a degradação ambiental e ainda maiores desastres.
Isso porque, mesmo ocupando menos de 3% da superfície terrestre, as cidades já são responsáveis por mais de 70% das emissões de gases do efeito estufa. Mas esse certamente não é o único problema. Expansão urbana rápida em geral não vem com infra-estrutura adequada. As consequência são, entre outros danos, quantidades enormes de lixo, erosão e assoreamento, poluição do ar, água e solo. E, inevitavelmente, a invasão e a destruição dos ecossistemas naturais.
As más condições de vida tornam as cidades altamente vulneráveis às mudanças climáticas e ameaçam a biodiversidade ao redor delas. No entanto, não é assim em todo lugar. As cidades sustentáveis, que combinam expansão e equilíbrio, são exemplos de que é possível evitar esses problemas globais e moldar o futuro do mundo.
O ranking das cidades mais sustentáveis e o que podemos aprender com elas
Reykjavik
A cidade mais sustentável do mundo deve priorizar pela redução das emissões de gases na atmosfera, certo? E esse é apenas um dos motivos pelas quais a capital da Islândia está no topo da lista.
Mais de 99% da produção de eletricidade de Reykjavik vem de uma combinação de energia hidrelétrica e geotérmica, produzida com base na atividade vulcânica, abundante no país (uma fonte limpa, renovável e com menos impacto ambiental).
Além disso, há um grande incentivo para o uso de carros elétricos, com postos de gasolina e edifícios preparados para atender a necessidade de recarga. Como se só isso não fosse o suficiente, o governo tem estimulado a população a usar o transporte público, incluindo os ônibus movidos a hidrogênio.
Outra ação relevante é conceito de bairros ativos. O que isso significa? Primeiramente, a população pode sugerir melhorias em um canal aberto com os governantes. Em seguida, garantir a prestação contínua de serviços públicos essenciais para todos, além de conectar toda a cidade por meio ciclovias modernas e preservar os espaços verdes.
Contudo, a interação com o governo pode ser considerada a cereja do bolo. Por meio de uma plataforma específica, os cidadãos podem enviar sugestões sobre qualquer coisa e têm voz ativa para propor mudanças na cidade. Por exemplo, sugerir horários de funcionamento das escolas e mesmo o desenvolvimentos de novos parques. Em seguida, a Câmara Municipal discute as propostas mais populares e decide quais valem a pena implementar.
Vancouver
O percurso da terceira maior cidade do Canadá para ser classificada como uma das cidades mais sustentáveis do globo teve início da década de 1990. Foi quando a cidade começou a implementar políticas públicas com a intenção transformar a metrópole a cidade numa das mais verdes do mundo.
De lá para cá, a iniciativa Greenest City (a cidade mais verde – que tem como pilares a construção ecológica, a busca por novas formas de energias renováveis e o desenvolvimento de sistemas de transportes de massa com baixo impacto ambiental) começou a colocar em prática metas realistas para alcançar o objetivo proposto.
Hoje, Vancouver comemora alguns resultados dessa ação, como o título de cidade com a menor emissão de gases da América do Norte per capita, visto que 90% da energia que a população utiliza vem de fontes renováveis.
Ao mesmo tempo, conseguiu implementar tecnologias limpas e energias renováveis nos transportes públicos, como ônibus, trens, balsas e trem-bala. E não foi só isso, expandiu as ciclovias, bem como aumentou os espaços verdes na cidade, além de lançar o conceito de Carbono Zero no setor da construção, incentivando obras a partir de técnicas e materiais que não emitem CO2.
Camberra
A capital australiana se destaca igualmente como uma das mais sustentáveis do planeta, devido ao uso de energia renovável, baixos níveis de poluição, disponibilidade de espaços verdes e acessibilidade.
Só para ilustrar, Canberra foi a primeira cidade da Austrália a ter um fornecimento de energia 100% renovável, usando como base a energia solar e os parques eólicos próximos.
A fim de reduzir as emissões de gases na atmosfera, o governo investiu em uma uma vasta rede de opções de transporte público, possibilitando que todos cheguem a praticamente qualquer lugar sem carro próprio.
Nesse mesmo sentido, a cidade também administra um serviço de compartilhamento de caronas, incentivando as pessoas a viajar em grupos e reduzir a condução individual.
Outro plano de ação bem executado tem sido a estratégia de arborização urbana, que visa uma cobertura de 30% a mais de áreas verdes até 2045.
Helsinque
A capital da Finlândia é outro modelo global. Ali, o desenvolvimento urbano sustentável não é apenas uma promessa vazia. As soluções foram pensadas para serem não apenas ecologicamente corretas e energeticamente eficientes, mas, também, socialmente equilibradas.
Para se ter uma ideia, há apenas alguns anos a cidade anunciou um plano audacioso de reduzir ao máximo a necessidade da população de ter carros particulares até 2025. E parece que tem dado certo.
A frota de ônibus urbanos e as linhas de metrô se expandiram, assim como aumentou o fornecimento de opções de mobilidade. O grande diferencial fica por conta da plataforma MaaS (mobilidade como um serviço). Ela que acopla diferentes operadores de serviços de transporte (desde ônibus, táxis e bicicletas até voos e carona compartilhada). O plano é que, dependendo da necessidade, cada pessoa facilmente contrate o transporte ideal, eliminando a necessidade de um carro próprio para se locomover.
De modo geral, a cidade cria plataformas e oportunidades para o desenvolvimento sustentável. Elas incentivam uma economia limpa e circular com foco no não-desperdício de comida, eliminação ecológica ou reaproveitamento de resíduos, mobilidade, eficiência energética e uso de energia renovável.
São Francisco
Como algumas das maiores cidades do mundo que realmente se preocupam com o futuro do planeta, São Francisco (EUA) tem feito a sua parte e foi nomeada a cidade mais verde do país em 2011. Nesse caso, a sustentabilidade e a inovação fizeram uma parceria perfeita.
São Francisco conseguiu utilizar a tecnologia a seu favor implementando meios mais eficientes e inteligentes de recursos, proporcionando mais economia de custos e energia, melhor prestação de serviços e consciência ambiental.
Tais tecnologias não apenas reduziram o uso de energia, mas também simplificaram a gestão de resíduos e permitiram expandir o sistema de transporte da cidade.
Na prática, isso quer dizer que o investimento necessário permitiu com que mais da metade da população prefira o transporte público. Por sua vez, reciclagem e compostagem se tornaram obrigatórias, mas o governo faz sua parte e cede recipientes para destinação de compostáveis.
E não para por aí. Em 2016 o governo aprovou uma lei que obriga todos os novos edifícios construídos na cidade a terem painéis solares. Outra medida fortemente incentivada pelo governo é a construção de telhados verdes. De fato, esses jardins suspensos regulam a temperatura no interior dos edifícios e ajudam a reter a água da chuva.
Copenhague
A capital da Dinamarca tem a reputação de ser uma cidade inteligente, que está sempre investindo na qualidade de vida dos seus habitantes. Por meio de políticas públicas sólidas e consistentes, Copenhague deve se tornar uma das primeiras cidades neutras em CO2 até 2025.
Lá, o setor público e a sociedade colaboram, incluindo empresas e instituições de ensino. Essa integração permite avaliar o estado da cidade em tempo real, facilitando a gestão de melhorias propostas para reduzir o tráfego, a poluição do ar e as emissões de CO2.
Gosta de pedalar? Copenhague é uma das que mais investe nesse tipo de mobilidade urbana. Já conta com aproximadamente 400km de ciclovias e mais de 50% da sua população opta por ir e vir de bike. Por lá, as ruas são projetadas para privilegiar os ciclistas e pedestres, sem contudo atrapalhar a circulação dos motoristas.
Outra a iniciativa notável revela como pequenas mudanças de hábitos podem influenciar a qualidade de vida de uma população. Em 2019, a administração pública substituiu os alimentos à base de carne por proteínas vegetais em espaços como creches, escolas e hospitais.
A pecuária é dos grandes responsáveis pela emissão de metano. Com essa medida, a capital dinamarquesa pretende contribuir para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa e a pegada de carbono em 25% até 2025.
O governo leva alimentação a sério. De tal forma que plantou centenas de árvores frutíferas nos parques e praças, onde qualquer um pode colher e comer livremente os frutos. O intuito é gerar mais conexão entre pessoas e natureza e estimular o consumo de alimentos saudáveis.
E o Brasil, como fica?
Uma coisa em comum em todos as cidades que encabeçam a lista das mais “eco-friendly” do mundo é a ligação entre governo e sociedade em prol da preservação ambiental, inclusão social e prosperidade econômica sustentável.
Pelo visto, ainda temos muito a aprender. Mas há esperança. Alguns municípios brasileiros, inclusive, já estão buscando caminhos possíveis para se tornarem mais inteligentes e sustentáveis, ainda que a passos lentos.
Curitiba (PR) é reconhecida por sua mobilidade urbana eficiente. Paragominas (PA) possui o projeto “Município Verde”, buscando ações efetivas para preservar os recursos naturais e biodiversidade da região. Em Minas Gerais, a cidade de Extrema tem um projeto que incentiva o plantio, reflorestamento e recuperação de áreas que margeiam rios, proporcionando incentivos para que proprietários de terras preservem áreas verdes no entorno de córregos e riachos.
Sim, ainda há um longuíssimo caminho para percorrermos. Mas, se seguirmos os bons exemplos, esse é um sonho possível.
Com a colaboração de Thalita Mion
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