A qualidade de vida do mundo inteiro deu uma boa decaída nos dois últimos anos com a pandemia. Em consequência, as pessoas começaram a ficar muito mais alertas em relação ao ambiente em que vivem e a cuidados com a saúde. Sobretudo no que se refere à nutrição. O consumidor do futuro vai focar em alimentos com quatro S: saborosos sim, mas também saudáveis, sustentáveis e seguros.
Essa interminável sucessão de incertezas, agravada ainda mais pelo declínio ambiental e as contínuas transformações sociais, tem tido grande impacto nas escolhas de consumo. A sociedade em geral vem buscando restabalecer um certo senso de estabilidade e segurança, e a alimentação é, certamente o setor em que essa tendência mais se reflete.
Não apenas os produtos, mas também as próprias empresas se alinham às mudanças de comportamento
Isso levou marcas com visão de futuro a desenvolver novas soluções criadas com o propósito de ajudar os consumidores a estabelecer um senso de normalidade para si mesmos, suas famílias e seus animais de estimação.
Para responder às mudanças de expectativas e comportamentos, estamos vendo de tudo, desde alimentos, rações e bebidas que promovem a saúde intestinal até alternativas de carne e laticínios à base de vegetais e embalagens biodegradáveis.
Este mês, a gigante multinacional ADM, que fabrica ingredientes e insumos para a indústria alimentícia, lançou seu segundo relatório anual de tendências globais de consumo. Segundo as pesquisas, os consumidores querem sentir que o que comem faz bem, tanto para eles mesmos quanto para o planeta.
Além disso, eles querem consumir produtos de empresas que estão alinhadas com essa maneira de pensar.
Os alimentos estão cada vez mais relacionados a palavras e expressões como orgânico, vegano, sustentabilidade, equilíbrio, origem confiável, Clean Label (alimentos sem aditivos ou ingredientes químicos e artificiais), transparência de marca, saudabilidade, ética, respeito, qualidade de vida.
Google confirma a tendência de busca por alimentação mais consciente
Da mesma forma, uma outra pesquisa, realizada pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis) também apontou resultados nessa direção. O consumo de alimentos orgânicos aumentou 44,5% nos sete primeiros meses das restrições sociais impostas para conter a pandemia de Covid-19.
Já a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou um estudo mostrando que 36% dos consumidores passaram a optar por alimentos e bebidas que sejam mais benéficos para o sistema imunológico.
O próprio Google Trends Brasil confirma essa tendência: a crescente procura por alimentos saudáveis e sustentáveis também se mede nos mecanismos de busca na Internet. Entre fevereiro e maio de 2020, a busca por “como aumentar sua imunidade” cresceu 136% na plataforma.
Assim também cresceram as buscas por produtos de produção sustentável: segundo uma avaliação global da Economist Intelligence Unit (EIU, uma divisão do grupo editorial inglês The Economist), houve um aumento impressionante de 71% das pesquisas por produtos sustentáveis nos últimos cinco anos, com crescimento contínuo durante a pandemia COVID-19.
Decolagem do veganismo
O que se vê, portanto, é que existe definitivamente um grande apetite por uma alimentação mais consciente e benéfica para a saúde, com menor impacto ambiental. O consumidor quer saber exatamente o que está comendo, e de onde vem essa comida.
E não só isso. Ele hoje é sensível a questões com as quais até há pouco tempo ninguém se importava. Como por exemplo: a produção desses alimentos economiza água? Reduz o uso de energia? Usa embalagens que não poluem? Os vegetais são cultivados sem produtos químicos? Os animais são confinados e anabolizados?
A substituição dos produtos de origem animal por similares vegetais já há muito tempo deixou de ser coisa de "naturebas", mas nos dois últimos anos esse hábito decolou. E o mercado, claro, vem rapidamente aumentando a oferta, inclusive no Brasil.
Afinal, nós já somos o 16º maior mercado do mundo na categoria de substitutos de carne, segundo Estudo da Euromonitor International realizado no ano passado.
As principais tendências do consumo de alimentos da próxima década
Essa é, inclusive, uma das principais tendências de consumo dos próximos dez anos, segundo o relatório da ADM. A lista da empresa inclui oito principais tendências de consumo que estão impulsionando o crescimento global atual. Ao que tudo indica, elas vão se incorporar ao dia-a-dia em geral num futuro próximo:
Estilo de vida à base de plantas
De acordo com a ADM, é cada vez maior o número de "flexitaranos", que são os consumidores que adotam uma alimentação reduzida em alimentos de origem animal. São aqueles que buscam uma nutrição funcional e saudável, e um estilo de vida mais ecologicamente correto.
Assim como o crescente número de consumidores veganos e vegetarianos, eles movimentam um mercado crescente de produtos à base de plantas. As marcas de alimentos e bebida estão ampliando rapidamente o panorama de opções baseadas em plantas ricas em nutrientes.
A maioria já é tão boa que satisfaz até aos carnívoros.
Por isso, calcula-se que as proteínas alternativas representarão muito provavelmente 11% do mercado total de proteínas em 2035.
Nutrição integral para o corpo e a mente
Os consumidores querem ser mais proativos e nutrir corpo e mente equilibrando melhor a dieta e o estilo de vida. A pandemia despertou um interesse maior pela saúde mental, com o intuito de lidar com o estresse e a ansiedade, e essa tendência vem se estabelecendo.
A alimentação saudável é uma forma de apoiar o bem-estar holístico, e com isso, passou a ser uma prioridade.
A microbiota intestinal como raiz do bem-estar
De maneira idêntica, também aumentou muito a compreensão do papel microbiota intestinal e de sua importância. Segundo os dados da ADM, 58% dos consumidores globais já sabem que as bactérias do sistema digestivo são essenciais para o bom funcionamento do corpo todo.
A relação da saúde intestinal com o bom funcionamento de todos os outros órgãos, bem como com função imunológica, e até o humor, a energia e o equilíbrio emocional está cada vez mais clara. E com isso, os consumidores deixaram de buscar apenas produtos naturais para aliviar o desconforto, mas se "empoderaram" do seu bem-estar.
Em vista disso, cresce a busca por alimentos, bebidas e suplementos que beneficiem a saúde intestinal, a exemplo dos ricos em fibras, prebióticos e probióticos.
Origem confiável, ética e transparência
Com certeza uma notícia muito animadora: os consumidores têm exigido produtos com "rótulo limpo". O comprador de hoje está procurando alimentos e bebidas que contenham ingredientes reais e simples, para ajudar a promover uma alimentação saudável e sustentável.
Mas, mais do que isso, ele quer entender todo o ciclo de vida do produto. Desde como ele é feito e embalado. Consideram a logística reversa, e até mesmo se o processo de fabricação envolve economia circular, que é quando os resíduos são insumos para a produção de novos produtos.
Humanização de Animais de Estimação
De acordo com a ADM, 30% dos donos de animais de estimação de todo o planeta gastaram uma quantidade significativa de tempo pesquisando as melhores opções de alimentos para seus pets. E, consequentemente, investindo nos produtos. Foi constatado um aumento da venda de 41% nos alimentos “totalmente naturais”, por exemplo.
A expectativa é que essa demanda continue crescendo.
Bondade sustentável
Os consumidores acreditam que a sustentabilidade é um imperativo moral, pois a conectam com o que é certo e ético para sua comunidade e o meio ambiente. Como resultado, aumentam as iniciativas de produção consciente e práticas de abastecimento sustentável. Isso inclui práticas de agricultura regenerativa e produção de carbono zero para proteger o suprimento de alimentos do futuro.
Bens renováveis e bio tecnologia
Os atuais consumidores estão mais conscientes do impacto ambiental gerado pelo próprio consumo , assim como pelo sistema alimentar em geral. Mais especificamente, ao que se refere ao uso de materiais finitos e resíduos físicos.
A pesquisa apontou que cresce sistematicamente o número de pessoas que acredita que as empresas devem assumir maior responsabilidade pela redução de lixo e do desperdício de energia, da produção até o descarte.
Segundo o estudo, 38% dos consumidores de todos os países estão dispostos a pagar mais por produtos feitos com materiais sustentáveis.
Oportunidade e reflexão
Sabemos que todos esses dados representam grandes oportunidades de negócios para as marcas que buscam tendências para ganhar mercado no futuro.
Entretanto, mesmo que esse movimento seja explorado pelas empresas de olho no “bolso”, já dá para concluir que a pressão da sociedade para a adoção de práticas mais sustentáveis e saudáveis está conseguindo transformar discursos em realidade.
Com a colaboração de Thalita Mion
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